VTuber: como os YouTubers virtuais estão dominando as redes

O marketing de influência ganhou um novo tipo de protagonista: os VTubers.

O fenômeno já saiu do nicho: YouTube e Twitch abrigam audiências gigantes, agências especializadas profissionalizaram o modelo, e marcas de todos os tamanhos usam avatares em lançamentos, collabs e experiências ao vivo. 

Quer entender por que os YouTubers virtuais estão dominando as redes e como entrar nesse jogo? Confira o guia abaixo.

VTuber (abreviação de Virtual YouTuber, ou “Youtuber virtual”) é um criador de conteúdo online que utiliza um avatar digital, geralmente em estilo anime, 2D ou 3D, no lugar de aparecer com o próprio rosto nas câmeras. 

Esse avatar é animado, muitas vezes em tempo real, por meio de softwares de captura de movimentos, como Live2D, VRoid Studio, VTube Studio ou FaceRig.

Alguns VTubers ainda recorrem a modelos estáticos chamados PNGTubers, compostos por imagens que mudam conforme detecção de voz ou expressões.

A ideia de usar avatares digitais para se comunicar já existia desde os anos 1990 com iniciativas tecnológicas como o VActor (1991) e personagens virtuais transmitidos em tempo real. Em 2011, a criadora Ami Yamato publicou vlogs no YouTube usando um avatar animado em 3D.

O verdadeiro ponto de virada veio em final de 2016, quando Kizuna AI se apresentou como a primeira VTuber a usar esse termo, impulsionando o fenômeno no Japão.

O sucesso de Kizuna AI motivou o surgimento de agências voltadas para VTubers, como Nijisanji e Hololive, criadas entre 2018 e 2019.

A agência Nijisanji ajudou a popularizar o uso de modelos Live2D e transmissões ao vivo, enquanto Hololive, da Cover Corporation, expandiu o mercado e criou talento virtual estruturado através de apresentações regulares e merchandising.

A partir daí, o fenômeno VTuber se expandiu globalmente, com crescimento acelerado durante a pandemia de COVID‑19, devido ao maior consumo de conteúdo digital e transmissões ao vivo

Na prática, um canal de VTuber opera assim: o criador interage normalmente com espectadores, jogando, conversando ou cantando, mas tudo através de um avatar animado.

O software sincroniza os movimentos do rosto, a fala, o corpo e as mãos, fazendo com que o avatar reproduza essas ações simultaneamente. A transmissão ocorre em plataformas como YouTube, Twitch ou similares, com o avatar como protagonista.

Veja o exemplo da Miko, uma streamer da Twitch, controlando seu avatar:

Aqui vai uma lista com os principais componentes técnicos de um canal de VTuber:

• Avatar digital (2D ou 3D): o personagem visual que representa o streamer;
• Rigging do modelo: estrutura que permite animações conforme os comandos físicos;
• Ferramentas de rastreamento facial (via webcam ou apps) e corpo e mãos (alguns setups incluem sensores ou hardware adicional);
• Software de transmissão que junta o avatar animado com o áudio e envia ao público via plataformas de live stream ou vídeo.

Os VTubers representam uma nova frente no marketing de influência porque unem três fatores que as marcas valorizam: alto engajamento, apelo visual e capacidade de manter uma persona engajada, sem as limitações de influenciadores digitais humanos. 

Por estarem ligados à cultura digital e ao universo do streaming, os VTubers atraem comunidades extremamente ativas entre jovens da Geração Z e millennials, que confiam nas recomendações de seus criadores favoritos.

Muitos desses VTubers estão sendo adotados em contextos corporativos. Um exemplo é a Synthesia, startup especializada em vídeos com avatares gerados por IA, que já possui mais de 65 mil clientes, entre eles grandes empresas como Merck, SAP e Mondelez

As parcerias entre marcas e indivíduos famosos não são uma novidade, mas o que está acontecendo é algo diferente, porque o mercado de influência nunca esteve em tanto crescimento. Espera-se que alcance US$ 32,6 bilhões globalmente ainda em 2025, representando um aumento de cerca de 35% em relação ao ano anterior.

A trajetória vem ocorrendo há anos: de 1,4 bilhão de dólares em 2014 para mais de US$ 32 bilhões em 2025, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) superior a 33%. Além disso, campanhas de marketing de influência demonstram ROI elevado, cerca de 6,50 dólares retornados para cada 1 investido.

Dentro desse cenário, os VTubers representam uma vertente em rápida ascensão. O mercado global de VTubers foi avaliado em US$ 3,99 bilhões em 2024 e deve atingir US$ 5,38 bilhões em 2025, com projeção de alcançar US$ 59,45 bilhões até 2033, sustentando um crescimento médio anual (CAGR) de 35%.

Assim como outros criadores tradicionais, os VTubers estão nas principais mídias sociais, tanto para fazer transmissões ao vivo quanto para divulgar novidades aos fãs.

YouTube continua sendo a principal plataforma para VTubers, especialmente para os originários do Japão. É ideal tanto para transmissões ao vivo (YouTube Gaming) quanto para conteúdo gravado, como musicais, vlogs e clipes curtos. 

Na lista dos 100 VTubers mais assistidos, 72% têm o YouTube como sua plataforma principal, na frente da Twitch (dados do Stream Hatchet). A capacidade de acomodar vídeos sob demanda e lives torna o Youtube muito popular entre esses criadores.

A semelhança em certos aspectos com o NicoNico, antigo portal japonês, também faz do Youtube a plataforma mais preferida para VTubers.

Embora historicamente menos dominante entre VTubers japoneses, o Twitch vem ganhando espaço entre criadores ao redor do mundo. 

A plataforma oferece uma comunidade engajada e ideal para interações ao vivo com fãs, além de possibilidades de assinaturas e bits que pode ser atraente em termos de monetização.

Na comparação de visualizações entre 2023 e 2024, canais de VTubers geraram cerca de 327 milhões de horas assistidas no Twitch, segundo dados do Stream Hatchet.

Em comparação, houve 377 milhões de visualizações no YouTube no mesmo período, uma diferença reduzida (cerca de 46,5% vs. 53,5%). 

No mercado chinês, Bilibili se destaca como a plataforma favorita dos VTubers locais. É considerada a principal plataforma de livestreaming para esse tipo de criador na China.

Agências como a Hololive chegam até a transmitir simultaneamente nesse site e no YouTube, visando diferentes públicos, especialmente após firmar contrato com a plataforma chinesa.

O Kick é uma plataforma mais recente no cenário de streaming, mas já vem atraindo alguns VTubers por oferecer políticas de monetização mais agressivas, como a divisão de receita de 95/5 em favor do criador. 

Embora ainda tenha um público menor que YouTube e Twitch, seu crescimento rápido e a liberdade de conteúdo tornam o Kick uma aposta para criadores que desejam diversificar onde transmitem.

Voltada principalmente para o público sul-coreano, a SOOP é uma plataforma de streaming que vem sendo explorada por alguns VTubers da região. O alcance da plataforma ainda é limitado, mas oferece forte integração com comunidades locais e eventos voltados ao mercado de entretenimento asiático.

Criada pela Naver, a mesma empresa por trás do popular buscador coreano, a CHZZK é outra opção para VTubers na Coreia do Sul. Por ter um foco em interatividade e transmissão ao vivo, ela serve como alternativa regional ao YouTube e Twitch, aproveitando a infraestrutura da Naver para atrair público doméstico.

O Niconico é um veterano das plataformas japonesas, sendo muito usado antes mesmo da explosão dos VTubers. 

Embora tenha perdido parte de sua popularidade para o YouTube, ainda mantém uma base fiel de fãs e criadores. Sua principal diferença está no formato de comentários sobrepostos diretamente no vídeo, algo que cria uma experiência visual única e interativa para o público.

O Twitter, agora chamado X, não é usado como plataforma de transmissão, mas sim como canal de interação, marketing e relacionamento. 

VTubers utilizam a rede para compartilhar clipes, anunciar lives, postar artes de fãs e conversar com seguidores. Muitas vezes, a persona criada no avatar se mantém ativa também no Twitter, reforçando a imersão e o vínculo com o público.

As pessoas que produzem avatares de VTuber variam bastante conforme o nível de sofisticação desejado. Hoje, criar um avatar é acessível para quem quer dar os primeiros passos, mas à medida em que se busca mais personalização e qualidade, é comum recorrer a profissionais especializados ou até uma equipe completa.

Esse processo, chamado rigging (estruturação de movimentos), é a etapa em que o avatar recebe uma “armação digital” para que suas partes (como olhos, boca, mãos e corpo) possam ser animadas de acordo com os movimentos e expressões do criador. 

A complexidade do rigging é um dos fatores que definem se criar um VTuber será algo rápido e acessível ou um trabalho técnico e demorado.

• Amadores e os próprios criadores muitas vezes utilizam ferramentas como VRoid Studio, tutoriais no YouTube e modelos prontos de plataformas como Booth.pm para começar de forma independente e barata;
• Artistas, modeladores e riggers profissionais podem ser contratados quando se busca um avatar personalizado ou altamente detalhado. Esses profissionais cuidam da criação artística, do rigging (ou seja, de dar mobilidade ao modelo) e da preparação técnica para uso em streams.

Primeiro mostramos o jeito mais fácil (contratando o profissional certo), e em seguida trazemos um passo a passo para iniciantes que preferem criar o próprio avatar do zero.

Se você quer rapidez e qualidade, contrate alguém que já faz isso todo dia. Para 2D (estilo anime “papel animado”), procure um ilustrador que entregue o arquivo em camadas (.PSD) e um rigger Live2D (quem faz o rigging, isto é, a “estruturação de movimentos” do rosto/corpo). 

Para 3D, procure um modelador 3D (VRoid/Blender) e, se precisar de movimentos corporais mais ricos, um rigger 3D/animador. 

Onde achar: X/Twitter, ArtStation, VGen, Fiverr e comunidades de Live2D/VRoid. Peça portfólio, combine direitos de uso (comercial, edição, exclusividade), entregáveis (ex.: .PSD por camadas / .vrm / expressões) e prazos.

Se, mesmo assim, você quer criar por conta própria, siga este roteiro.

Este passo a passo é baseado em guias de referência no assunto (VTube Studio “Getting Started”, manuais do Live2D Cubism, site oficial do VRoid, além do guia da WIRED para iniciantes):

Crie 2–4 imagens do personagem (boca/olhos abertos e fechados) e use um app leve como veadotube mini para trocar as imagens conforme você fala. É gratuito, roda em Windows/macOS/Linux e foi feito exatamente para PNGTubing. 

No VRoid Studio você monta um avatar 3D estilo anime ajustando sliders de rosto, cabelo e roupa; depois exporta em VRM (formato padrão para avatares 3D). Para animar no PC, abra o arquivo VRM no VSeeFace, que faz rastreamento facial/mãos via webcam e é muito usado por VTubers. 

Se preferir o visual 2D, desenhe o personagem em camadas (olhos, boca, cabelo etc.) e faça o rigging no Live2D Cubism seguindo o tutorial oficial. Para animar em tempo real, importe o modelo no VTube Studio, que captura sua face pelo celular/webcam e movimenta o avatar.

Outra estratégia é comprar um modelo pronto (2D ou 3D) e apenas configurar/ajustar expressões. No 3D, garanta que o arquivo seja VRM para abrir direto no VSeeFace; se necessário, converta para VRM seguindo as instruções do formato. 

Use o OBS Studio (software oficial e gratuito) para montar a cena: adicione a janela/câmera virtual do VTube Studio/VSeeFace, microfone e alertas, e faça um teste privado para checar áudio/sincronia. Baixe o OBS apenas pelos canais oficiais. 

Quando estiver confortável, incremente: rastreamento por celular/sensores, expressões, roupas e cenas; a própria comunidade e materiais em inglês trazem tutoriais e dicas de fluxo de trabalho (a WIRED recomenda inclusive testar barato antes de investir pesado).

Dica final: se em algum ponto você travar em desenho/rigging/modelagem, vale contratar só uma etapa (ex.: apenas o rig Live2D) e continuar o restante sozinho. Assim você economiza tempo sem abrir mão da autoria.

Para algumas marcas, a dúvida não é mais “se” entrar nesse universo, mas “como”: criar um VTuber proprietário ou propor uma collab com quem já tem um fandom.

“Collab” é abreviação de collaboration (colaboração). Nesse caso, é uma parceria entre a marca e um VTuber (ou agência) para criar lives patrocinadas, participações em eventos, cupons/links rastreáveis ou até produtos licenciados.

Faz sentido quando a marca quer construir um ativo de longo prazo (IP) com voz, estética e calendário 100% sob controle. Um avatar proprietário rende consistência entre campanhas, mercados e formatos (lives, vídeos, eventos, tutoriais ou suporte).

Um VTuber exige estrutura: design/rigging, direção de voz, pauta contínua, moderação e métricas claras (alcance qualificado, tempo assistido, CTR, conversão). O investimento e o prazo são maiores, mas a recompensa é patrimônio narrativo e independência de agendas externas.

Essa é a escolha para quem uer velocidade e tração imediata. A marca “aluga” confiança e distribuição de quem já tem fandom, reduzindo atrito de descoberta e acelerando lançamentos, testes de oferta e ações sazonais. 

O custo se concentra em direitos de uso e bônus por performance. A execução é ágil: briefing, roteiro aprovado, disclosures e UTMs. Mas pede atenção à brand safety e adequação de persona, resolvidos com contrato de uso do avatar.

A lista abaixo reúne alguns dos VTubers mais famosos da internet. Considere um ponto de partida para você se inspirar em estilos,  ideias de collab ou de avatar próprio.

Pioneira do termo “Virtual YouTuber”, a Kizuna AI deu o pontapé no boom do formato em 2016 e virou referência para toda a cena. Sua influência consolidou o modelo de persona virtual carismática que conversa, joga e canta ao vivo.

O “tubarão” mais famoso do VTubing e a VTuber com mais inscritos no YouTube, a Gura se tornou ícone global. Em abril/maio de 2025, anunciou sua graduação da Hololive EN, uma agência de talentos japonesa que gerencia Virtual YouTubers.

Capitã pirata carismática e cantora, a personagem Houshou Marine ultrapassou 4 milhões de inscritos e é frequentemente citada como a VTuber ativa mais inscrita no YouTube, liderando o presente da cena.

A coelha da hololive, a personagem Usada Pekora, é presença entre as mais assistidas e figura de topo entre as streamers femininas, com números fortes em lives longas de jogos e eventos.

Em 2025, a Sakura Miko assumiu a liderança de audiência trimestral entre VTubers em horas assistidas, superando 12 milhões no Q2, sinal do momento espetacular da streamer.

Ícone masculino da NIJISANJI, Kuzuha combina presença forte em jogos competitivos e lives maratonas; atingiu 2 milhões de inscritos no YouTube em 2025 e segue entre os líderes de audiência.

A estrela latina do Twitch quebrou o recorde histórico de assinaturas ativas da plataforma durante um subathon de 2024, reforçando o poder dos VTubers também fora do YouTube. Em 2025, sua trajetória seguiu em alta e nos holofotes.

Cantora de alto nível, a Suisei levou a música VTuber a palcos e paradas: fez show no Budokan em 2025 e acumula hits e colaborações de destaque, além de lives musicais muito vistas.

Parte do grupo hololive Gamers, a Korone ficou famosa por maratonas de jogos e carisma “caótico fofo”; chegou a ser embaixadora de Sonic the Hedgehog no Japão.

Rapper/cantora da Hololive EN, a Mori Calliope expandiu a ponte música–VTuber com álbuns e turnês. Em 2025, fez show esgotado no Hollywood Palladium e segue como uma das artistas VTuber mais visíveis do Ocidente.

Empresas do varejo ao fast food, do entretenimento ao esporte e à tecnologia, já usam avatares digitais em campanhas, lançamentos e eventos. Separamos alguns cases que mostram como essas parcerias geram vendas na prática.

As redes de lojas de conveniência têm usado talentos da Hololive em campanhas sazonais com artes exclusivas, cupons e itens de merchandising para gerar tráfego nas lojas. 

Em 2025, Lawson lançou uma ação de verão com seis VTubers. A FamilyMart também promoveu distribuição de brindes em abril, reforçando o alcance massivo do formato no varejo japonês. Banner promocional da campanha divulgado pela Essencial Japan:

A gigante do fast food levou a VTuber Gawr Gura para aparições publicitárias e conteúdos patrocinados, incluindo um stream dedicado e um comercial referenciado pela própria criadora. 

O vídeo oficial do “Taco Bell: The Stream” soma centenas de milhares de visualizações, ilustrando como marcas globais já integram VTubers em campanhas mainstream.

A NBA anunciou colaboração com 30 streamers dos grupos NIJISANJI e NIJISANJI EN, com arte original, hashtag oficial e linha de produtos licenciados, um crossover que valida VTubers como ponte entre cultura pop e esporte profissional.

Veja o banner oficial do site para a colaboração entre a NBA e NIJISANJI:

A airasia desenvolveu a personagem Aozora Kurumi para ativar o ecossistema do super app e experimentar formatos de influência virtual. Em entrevista, o CBO da empresa detalha aprendizados e impacto das ativações com a VTuber como parte da estratégia de marketing de influência.

Pioneira do formato, Kizuna AI estrelou campanhas da Nissin. Relatos do setor registram forte demanda por produtos temáticos e rápida ruptura de estoque durante a ação, exemplo de como VTubers podem impulsionar brand lift e vendas por afinidade com fandoms.

Além das telas, VTubers já convertem engajamento em eventos físicos: Mori Calliope lotou o Hollywood Palladium, com produção de nível de show pop e livestream parcial que direcionou público global para compra de ingressos, prova do poder de comunidade que marcas podem alavancar em collabs.

Veja um registro do show feito pelo portal Business Insider:

Gostou de conhecer os VTubers? Esse universo já movimenta milhões de fãs, marcas e criadores. Para lançar um avatar próprio ou fazer collabs, o caminho está aberto: teste formatos, meça resultados e evolua rápido!

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